sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Ratzinger e a natureza de Jesus




Uma questão intrigante acerca da pessoa de Jesus. A pergunta que Pilatos faz a Jesus: "De onde és Tu?". A pergunta é recorrente, e frequentemente ronda a sua natureza íntima e desencadeia todo um jogo de contas existencial, consequência própria da pessoa do Cristo. 

É basicamente sobre isso que trata o início do livro "A infância de Jesus" de Joseph Ratzinger, o Papa emérito Bento XVI, cujo tema inicial dar-se na origem dialética da natureza de Jesus e seus desdobramentos nas imediações do seu tempo. 

Segundo o autor, a origem simultaneamente desconhecida e conhecida da natureza de Jesus faz um paralelo com as narrativas de Mateus e Lucas "de onde" ele é em seu duplo sentido. Se por um lado o primeiro dá ênfase à vida e natureza espiritual, o segundo introduz a vida pública e sua missão.

No entanto, sintomaticamente, e não por acaso, "de onde" é a pergunta recorrente nos evangelhos. O interessante nisso tudo, porém, é que a motivação fundante da pergunta de origem parece estritamente de natureza econômica. Como se o "de onde és Tu" (Jo 19,9) de Pilatos determinasse ou presumisse de alguma forma a missão e os anseios no Ser de Jesus a posteriori. Nem uma coisa, nem outra.

Conquanto sabe-se, a natureza de Jesus quando vista na ótica histórico-social, escandaliza; afinal, “de Nazaré pode vir algo de bom?” (Jo 1, 45-46)". Porquanto, e não menos absurdo, é a proveniência original de Jesus, porque, segundo Ratzinger, "não foi gerado por José, mas pela virgem Maria por obra do Espírito Santo".   

E como bem conclui o papa: “também isso vale agora para nós: a nossa verdadeira “genealogia”, ou sobrenome, ou origem, mas "a fé em Jesus, que nos dá uma nova proveniência, e faz-nos nascer “de Deus”. 

Assim seja.


Jackson Abreu

Paulo Afonso, 24 de Dezembro de 2014.