sábado, 1 de fevereiro de 2020

Memória da travessia



O cansaço do percurso do dia já não escondem nem surpreende o seu olhar tão triste. Sua esperança, já não tão publicada, não se converteu em força.

De onde moras, dá para ouvir os gemidos de desespero que solapam ao ver os quintais, as praças sujas e as luzes amarelas por onde andas. De longe, seu passo se apressa, suas mãos se agonizam de ansiedade de estórias que, incessantemente, passam pelos seus olhos.

Assim, a fugir do óbvio. O gestual dos corpos que os denunciam ao passear pela cidade, transeuntes expõem suas cicatrizes e remontam outros lugares. Correm em fuga, também cruzaram fronteiras e vão de um lado para outro, sem saber para onde.

Quando tranquilizas, ao se perceber o mundo em um lugar tão distante, desvendas outros tantos misteriosos, edificas mesmo assim em meio ao arraial, bebes em cisternas, deslumbras paraísos para além das paredes da cidade. Longe, ensaias proximidade; perpendicular, cruzas as ruas de alguma familiaridade...

E as casas por que habitam os cantos empoeirados continuam a ecoar alguma música e continuamente embaralham todas as memórias. No meio daqueles bares cheios de gente bebendo e crianças dançando e correndo, você a sentar sozinho à mesa, em solitude, com a memória da travessia.


Jackson Abreu




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